São-marquense atua na linha de frente durante enchentes no Rio Grande do Sul
Andrigo Morandi auxilia nos resgates com um grupo de amigos utilizando barcos. Além disso, centenas de são-marquenses se uniram para enviar comida e roupas para as vitimas Em meio à devastação causada pelas recentes enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, a solidariedade e a coragem emergiram frente à calamidade.

Andrigo Morandi auxilia nos resgates com um grupo de amigos utilizando barcos. Além disso, centenas de são-marquenses se uniram para enviar comida e roupas para as vitimas
Em meio à devastação causada pelas recentes enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, a solidariedade e a coragem emergiram frente à calamidade. Um exemplo inspirador é o do empresário são-marquense Andrigo Morandi, que não hesitou em mobilizar recursos e se lançar na linha de frente dos esforços de resgate na capital, Porto Alegre.
Morandi, é empresário e tem negócios em Praia Grande, viu-se sujeito a agir diante da magnitude da tragédia que se desenrolava no Estado. Em uma narrativa marcada pela proatividade e pela determinação, ele relata os desafios e as angústias enfrentadas ao longo dos dias de resgate.
“Foi uma situação desafiadora desde o início. Ver a magnitude da destruição e a urgência das necessidades das pessoas afetadas foi avassalador”, descreve Morandi. Junto com um grupo de amigos, ele tomou a iniciativa de utilizar dois barcos disponíveis para se deslocar até Porto Alegre e oferecer auxílio onde mais se fazia necessário.
“Estávamos no domingo pela manhã vendo todas aquelas enxurradas de informação e eu estava, de certa forma, preso em Praia Grande sem conseguir chegar à Serra também, a São Marcos. Devido a isso, me sentindo aqui de mãos atadas, sem muito o que fazer, conversando com um grupo de amigos nossos, de Torres, encontramos dois barcos que estavam parados, sem pessoas para utilizar. Aí, conversa daqui e dali, juntamos um grupo com cinco pessoas. Eu, o Eduardo, que é um funcionário meu, o Vítor, um parceirão do balonismo na Praia Grande e dois rapazes de Torres. Pegamos esses dois barcos que a gente conseguiu, e fomos até Porto Alegre. Chegamos lá no domingo próximo ao meio-dia, entramos em direção a Canoas, onde o pessoal mais pedia no momento”, relata Morandi.

No entanto, o cenário encontrado não era menos desafiador na capital. “Chegamos em Canoas e logo percebemos a complexidade da situação. Havia muitas pessoas precisando de socorro, mas a desorganização e a falta de informações claras dificultavam as operações de resgate”, relata o empresário.
“Chegando em Canoas tinha muita gente lá, muita gente da polícia também. E o pessoal disse que lá já estava contida a situação, que eles não precisavam de mais barcos ali, enfim, que aquela região estava tranquila. Aí a gente se deslocou em direção a Porto Alegre”, acrescenta Andrigo.
Apesar dos obstáculos, Morandi e sua equipe perseveraram, alcançando áreas críticas como a região do aeroporto, onde retiraram pessoas ilhadas e as conduziram para locais seguros. “Foi uma corrida contra o tempo. Muitos estavam em situações desesperadoras, sem acesso a água potável, alimentos ou assistência médica”, destaca.
A falta de equipamentos adequados também se mostrou um desafio significativo. “Eu vi gente chegando com freezer, com lata de lixo, com telhas de aluzinco, com partes de câmera fria, o pessoal pegou uma porta de câmera fria, que é de isopor, e aí estava trazendo pessoas, levando água com aquilo. Qualquer coisa que boiasse naquele momento estava sendo utilizado”, observa Morandi.
Contudo, a solidariedade e a determinação da comunidade foram aspectos marcantes nesse cenário de adversidade. “Presenciamos atos de heroísmo e bondade que nos emocionaram profundamente. Pessoas de todas as idades e origens se uniram para enfrentar a crise e oferecer ajuda mútua”, ressalta o empresário.
Ao refletir sobre sua experiência, Morandi enfatiza a importância crucial da presença humana no auxílio às vítimas das enchentes. “Mais do que nunca, é hora de agir. As doações são importantes, mas o que realmente faz a diferença são as pessoas dispostas a se lançar no front das operações de resgate, levando esperança e solidariedade a quem mais precisa”, conclui.
“Eu fui com o intuito de ajudar e eu acho que todo mundo tem que ajudar, da forma que pode. Pessoas doando, pessoas levando, mas doações, comidas, isso tem muito. O que precisa mesmo são pessoas para ajudar lá. Levar comida até na casa de quem não consegue sair, de quem não quer sair, pessoas para tirar quem quer sair, isso hoje é o que existe a maior demanda do que eu vivi lá, do que eu vi lá dentro. Eu não fui em abrigos, não fui em nada disso, eu fui diretamente no resgate. E hoje o que falta lá, realmente, é isso. Pessoas, tem um monte, mas não tem uma embarcação, não tem um barco, não tem um jetski.”, complementa o são-marquense.
“Teve um momento que a gente estava passando com pessoa em cima da canoa e veio uma senhora na janela. Água, água, estou sem água, me tragam água por favor! Ela estava em um prédio todo cheio de grade e com as correntezas os carros iam todos ali e trancou a porta do prédio. Então ela não conseguia sair pelo prédio, porque tinham os carros nas portas. A gente subiu em cima de um dos carros, ela jogou uma corda lá, um negocinho da janela, conseguimos botar a água dentro de um recipiente lá ela puxou para cima e assim foi. Então o pessoal está improvisando porque muitas pessoas querem sair mas não tem como porque por cima não tinha como, porque era alto e por baixo tinham os carros trancando a entrada, a saída, enfim. Então tu vê de tudo, realmente é algo assustador.”
O relato de Andrigo Morandi ecoa não apenas como um testemunho das dificuldades enfrentadas durante as enchentes, mas também como um tributo à resiliência e à generosidade do povo gaúcho em tempos de adversidade.