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Por que a uva orgânica é mais valorizada

Na reportagem publicada ontem (“Uva sem agrotóxicos? Temos”), uma das informações que mais chamou a atenção do leitor foi a valorização pelo mercado da uva de mesa orgânica em comparação com a uva de plantio convencional. Essa curiosidade faz sentido, pois a niágara rosada orgânica está cotada a R$ 5 ao quilo.

Atualizado em 17/02/2023 às 12:02, por Equipe SMO.

Por que a uva orgânica é mais valorizada

Na reportagem publicada ontem (“Uva sem agrotóxicos? Temos”), uma das informações que mais chamou a atenção do leitor foi a valorização pelo mercado da uva de mesa orgânica em comparação com a uva de plantio convencional.

Essa curiosidade faz sentido, pois a niágara rosada orgânica está cotada a R$ 5 ao quilo. A niágara convencional está tabelada em R$ 1,58 (mesmo valor da bordô e da isabel). O preço pode reduzir ainda mais, pois as cantinas estão oferecendo R$ 1,40 ao produtor.

A valorização da uva orgânica, porém, é obtida mediante investimentos pesados e muito trabalho, aspectos igualmente presentes nas parreiras convencionais, mas que diferem entre um método e outro, daí a valorização de uma em relação à outra.

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O bom preço da uva orgânica é obtido pela soma dos investimentos com o valor intrínseco que um produto sem agrotóxicos possui. Ou seja, o consumidor não se importa de pagar mais quando conhece a procedência do produto.

Custos de produção

A Suliani Alimentos Orgânicos, de Linha Santana e personagem da reportagem de ontem, leva na ponta do lápis os custos para manter 1 hectare de niágara rosada e conseguir colher cerca de 25 toneladas por safra.

Os orgânicos carecem de um sem-número de cuidados inexistentes no cultivo convencional. Não raro, esses cuidados são desconhecidos pelo produtor convencional, que acha que uma simples migração de método de cultivo vai resultar em mais lucro. Não é assim.

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Em qualquer parreiral, os gastos começam na preparação do solo, plantio e atenções necessários pelo menos nos primeiros dois anos. No método orgânico, porém, há que se somar ainda a cobertura da área e um bom sistema de irrigação. Cobertura plástica armada sobre 1 hectare custa quase R$ 100 mil. O sistema tem durabilidade de cinco anos, em média. Caso sofra com granizo, a vida útil da cobertura pode ser menor.

Cobertura plástica armada sobre 1 hectare custa quase R$ 100 mil

A uva Suliani é integralmente vendida para SC, PR, SP e MG. Essa operação exige organização e, especialmente, investimentos. Segundo Carla Suliani, para esta safra a família está adquirindo 3 mil caixas de plástico para armazenar os cachos. Valor do investimento: R$ 17 mil. As caixas são renovadas anualmente.

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Também está sendo comprado mais papel para forrar as caixas e proteger os cachos: 150 quilos de papel a R$ 3,5 mil. Cada caixa é etiquetada com dois selos que certificam a origem da produção. Cada selo custa centavos, na soma, porém, o investimento ganha corpo.

Esses cuidados a uva convencional não exige, pois a colheita é acondicionada em caixas simples, empilhada em caminhões e levada à cantina. Sabemos, às vezes a uva sequer é encaixada, segue para a cantina direto na caçamba do caminhão.

Os custos são variados e constantes, pois o produtor orgânico tem obrigações que a lavoura convencional não possui. Exemplo: precisa ter um eficiente sistema de informática e internet, material de escritório etc. Até o selo de rastreabilidade, a garantia dos orgânico, cobra seu preço: R$ 300,00 ao ano.

Safra estendida

A colheita orgânica é mais complexa e longa. Os Suliani começam a colher uvas no meio de janeiro. A safra se estende até a metade de março, pois há uma seleção maior de cachos. Naturalmente, esse modelo impacta nos custos de mão de obra.

 “Tu ganha mais com a uva orgânica, sim, mas também gasta mais”, compara Carla.

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O parreiral dos Suliani é coberto, mas a propriedade não possui fonte de água própria. Solução para irrigar as videiras? Coletar água da chuva. Devido às rotineiras estiagens, em 2022 o sistema de reservação teve de ser ampliado. O investimento alcançou R$ 120 mil.

“É uma inverdade que parece fácil plantar orgânicos”.

Novo reservatório da propriedade teve investimento de aproximadamente R$ 120 mil

Curiosidade

Exemplo bem ilustrativo que diferencia a lavoura convencional da orgânica: no parreiral convencional, as plantas que surgem espontaneamente no solo, sob as videiras, são tratadas como inço, daninhas. O produtor convencional, geralmente, elimina essas plantas com herbicida. A intenção é “limpar” a parreira.

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No parreiral orgânico, essas plantas são estimuladas a crescer sob as videiras, pois ajudam a manter a umidade do solo, evitam erosão e ainda fixam nutrientes no solo, especialmente nitrogênio. E isso dá trabalho.

Os Suliani adotaram um sistema que mantém o solo sob a parreira coberto de ervas. No inverno, quando as videiras estão dormentes, o solo é adubado e é espalhado um mix de sementes contendo ervilhaca, nabo, aveia e azevém. Essas “ervas do bem” são mantidas até o verão, quando cumpriram seu papel. Então são roçadas (jamais arrancadas, as raízes compõem a estrutura do solo) para facilitar a colheita da uva.

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No parreiral orgânico, plantas consideradas daninhas são estimuladas a crescer sob as videiras e ajudam na composição do solo

Filosofia de vida

“Adotamos os princípios da agroecologia. Não há pragas, o que há é um desequilíbrio, e nós buscamos entender as causas desse desequilíbrio. Trabalhamos para fortalecer o solo com nutrientes. Originalmente, a agricultura é agroecológica”, define Carla.

Seguir essa filosofia é trabalhoso e caro, mas os Suliani estão convencidos de ter adotado um bom caminho. “Muito produtor entra para a agroecologia pensando no dinheiro, mas quem sobrevive é quem consegue viver essa filosofia de vida. Tu muda a tua forma de se alimentar, tu muda até a tua forma de se vestir por causa da sustentabilidade. E isso vai mudando teu cotidiano de forma que tu não quer mais voltar ao modelo anterior. E é isso que compensa”, declara Carla.