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Os Caminhos da Água: Vertentes fornecem água potável e ajudam a proteger mananciais

Parceria entre Emater, Sicredi e prefeitura recupera antigas nascentes em propriedades rurais e abre novas possibilidades de fornecimento de água Hoje encerramos a série de três reportagens em que mostramos o panorama da distribuição da água potável em São Marcos.

Atualizado em 13/03/2023 às 14:03, por Equipe SMO.

Os Caminhos da Água: Vertentes fornecem água potável e ajudam a proteger mananciais

Parceria entre Emater, Sicredi e prefeitura recupera antigas nascentes em propriedades rurais e abre novas possibilidades de fornecimento de água

Hoje encerramos a série de três reportagens em que mostramos o panorama da distribuição da água potável em São Marcos. O município possui três formas de abastecimento de água para consumo humano:

  1. Sistema Corsan (com 89,45% da população alcançada)
  2. Solução Alternativa Coletiva (SAC, são 13 poços comunitários, com 2,2 mil pessoas beneficiadas)
  3. Solução Individual (poços domésticos, 0,17% da população)

As três modalidades de extração de água e de abastecimento formam o grande sistema hídrico que assegura água potável para todos e, pelo menos neste verão seco, descarta desabastecimento. Cada um dos três modelos depende dos outros. Ou seja, a palavra de ordem é preservar, preservar, preservar.

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Hoje, mostramos como é o Programa de Preservação de Vertentes da Emater. Também destacamos os Casagranda, produtores rurais de Linha Santana que recuperaram antiga vertente e puderam abandonar a água encanada.

São Marcos integra importante e curioso movimento focado na preservação das águas de superfície. Traduzindo, a cidade aderiu a um programa que protege as vertentes das áreas rurais. Dito assim, parece desimportante, mas as vertentes são vitais para a manutenção de riachos, rios, lençóis d´água subterrâneos, açudes. Ou seja, sem as águas de superfície, os sistemas de abastecimento de água potável estariam comprometidos, desde a Corsan até os poços comunitários.

Neuri Frozza trabalhando na vertente dos Casagranda, em Linha Santana. Foto: Gilberto Blume/SMO

Parece pouco? Além de todas as funções descritas acima, a vertente protegida também fornece água para o banho da família, para cozinhar, para os animais, para irrigação. Em caso de análise positiva, a água também estará própria para consumo humano.

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O Programa de Proteção às Vertentes é uma parceria da Emater\RS – Ascar com a Sicredi Serrana, com apoio das prefeituras. O programa atende 17 município da região Caxias do Sul e seis da região Lajeado. Ao fim do programa, em 2024, 138 vertentes terão sido protegidas nas duas regiões.

Cada cidade pode proteger cinco vertentes com financiamento do Sicredi. Pouco mais de um ano após o início da parceria, São Marcos protegeu três vertentes.

“São Marcos é um dos municípios mais avançados”, revela Neuri Frozza, engenheiro agrônomo da Emater Regional de Caxias desde 1990.

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A proteção na prática

Além de expert (Frozza é especializado em Desenvolvimento Rural pela UFRGS), o engenheiro agrônomo é um apaixonado pelo tema. Ele participa ativamente do trabalho de preservação de vertentes. Ou seja, vai a campo orientar os proprietários rurais e ainda põe a mão na massa: cavouca, limpa, cimenta, instala canos, atola no lodo – faz a proteção da vertente acontecer.

“O principal objetivo do programa é preservar e conservar essas nascentes e fazer com que elas atendam as necessidades das famílias”, explica Frozza.

Resumidamente, na prática, a proteção de uma vertente consiste em:

– Limpar o ponto em que a água verte;

– Construir um pequeno reservatório de tijolos nesse ponto;

– Instalar um cano para captar a água, outro para eliminar o excesso (ladrão) e um terceiro para esvaziar o reservatório para manutenção, limpeza etc;

– Lacrar o reservatório a fim de evitar o ingresso de animais, folhas e para reduzir o surgimento de algas, limo etc.

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Providência vital

“Água obtida da vertente recuperada foi analisada pelos Casagranda. Resultado: zero coliformes fecais” Foto: Angelo Batecini/SMO

A proteção, porém, só será completa com uma providência considerada vital para a saúde da vertente: o cercamento do poço (raio de 15 metros) e plantio de espécies nativas.

O cercamento evita a aproximação de animais domésticos e silvestres. A reposição vegetal com plantas nativas cria um ambiente propício, sombreando a área e evitando que a chuva escorra sobre o solo e entre suja no reservatório da vertente.

 “O programa vem nesse sentido. Precisamos cuidar de nossas águas superficiais. As águas viajam: às vezes elas vão cair em outro lugar, e não aqui onde estamos. Por isso os poços que lá no passado não baixavam de nível, hoje baixam com a estiagem”, ilustra Frozza.

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O programa da Emater e Sicredi determina que a água da vertente seja analisada pelo menos uma vez ao ano, a fim de atender a resolução 3612, 2017, do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). Essa resolução determina presença zero de coliformes fecais nas vertentes protegidas. Por isso o cercamento da área e a reposição vegetal são vitais para o sucesso do trabalho.

Ademais, a proteção do entorno das vertentes também é exigida pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), atualização obrigatória a todos os proprietários de imóveis rurais. Quem fizer o CAR deverá proteger os mananciais de água num raio de 15 metros. Quem não fizer o CAR, num raio de 50 metros.

“É mais importante ter a água protegida do que ter alguns metros a mais de terra para plantar. Faça a proteção mesmo que não usar a água da vertente. Essa vertente vai gerar um fluxo de água, um córrego”, ensina Frozza.

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Quem pode aderir

O programa de proteção de vertentes está disponível para todos proprietários rurais, mesmo que não sejam clientes Sicredi.

A Emater se disponibiliza a orientar o proprietário interessado. Os custos com materiais, sem a parceria com o banco, giram em torno de R$ 500,00.

“Proteger a vertente vai muito além de proporcionar água, é um investimento para a saúde da família”, conclui Frozza.

Família Casagranda protege vertente, volta às origens e abre mão da água da rua

Na verdade, os Casagranda retomaram uma tradição que vinha de gerações. A vertente do potreiro abasteceu a família durante décadas. Foto: Angelo Batecini/SMO

A família Casagranda considera ter dado o pulo do gato ao proteger uma vertente que nasce num potreiro da propriedade. Produtores rurais, Lucila Scarmin Casagranda e Paulo Ricardo Casagranda vinham há tempos insatisfeitos com o serviço prestado pelo poço comunitário de Linha Santana. No ano passado, souberam do programa de proteção de vertentes da Emater. Não titubearam: se inscreveram no programa e em setembro arregaçaram as mangas. Em outubro, passaram a consumir a água da vertente e abriram mão da “água da rua”, canalizada de Santana.

“Foi ótimo, foi o melhor investimento que fizemos”, celebra Lucila.

Tradição

Na verdade, os Casagranda retomaram uma tradição que vinha de gerações. A vertente do potreiro abasteceu a família durante décadas. Cerca de 10 anos atrás, Lucila apresentou alergias severas. Os médicos desconfiaram da água, mas também podia ser dos agrotóxicos empregados numa propriedade em que trabalhavam.

Na dúvida, o casal abandonou a vertente e se associou ao poço comunitário de Santana. Segundo ela, à época pagaram 12 salários mínimos para ter direito à água potável. A mensalidade, atualmente, está em R$ 60,00 (“Mas parece que vai subir a R$ 100,00”, conta Lucila).

Estiagem?

Os Casagranda fizeram tudo direitinho na proteção da vertente. Auxiliados por técnicos da Emater, limparam e lacraram a vertente, cercaram a área num raio de 15 metros com fios elétricos e nesse espaço plantaram 25 mudas nativas de cedros, guabijus, ipês, cerejeiras, pitangueiras, angicos e sabugueiros.

O resultado não podia ser melhor, pois as análises registraram índice zero de coliformes fecais, um dos mais comuns contaminantes de águas superficiais. Esse resultado positivo significa que os Casagranda não precisam sequer adicionar cloro ao reservatório de 1 mil litros que leva água até a casa, morro abaixo, por gravidade, sem energia elétrica.

Outro ponto digno de nota: esta estiagem não afetou a nascente, a água segue vertendo normalmente. No verão do ano passado, quando a vertente ainda estava exposta no campo, a água praticamente desapareceu.

Leia as matérias anteriores nos links abaixo: