OMS mantém pólio como emergência global
Vírus circulante foi detectado na Faixa de Gaza e outros países A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou nesta terça-feira (13) que decidiu manter a poliomielite como emergência em saúde pública de interesse internacional.

Vírus circulante foi detectado na Faixa de Gaza e outros países
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou nesta terça-feira (13) que decidiu manter a poliomielite como emergência em saúde pública de interesse internacional. A entidade destacou que um comitê de emergência analisou os dados disponíveis sobre a circulação do vírus, focando em países como Afeganistão, Etiópia, Guiné Equatorial, Quênia, Mali, Níger, Paquistão, Senegal e Somália.
“O comitê concordou, por unanimidade, que o risco de propagação internacional do poliovírus continua a configurar uma emergência em saúde pública de importância internacional. Por isso, recomendou a prorrogação de orientações temporárias por mais três meses”, informou a OMS no documento.
Entre os fatores considerados estão:
- Vacinação de rotina fraca: muitos países possuem sistemas de imunização frágeis, que podem ser ainda mais afetados por emergências humanitárias e conflitos. Segundo a OMS, isso representa um risco crescente, pois as populações nessas áreas ficam vulneráveis a surtos de poliomielite.
- Falta de acesso: a inacessibilidade continua a ser um grande risco no combate à pólio, especialmente no norte do Iêmen e na Somália. Nesses locais, há populações significativas que não receberam imunização contra a poliomielite por longos períodos (mais de um ano).
Poliovírus derivado da vacina
Em 2024, o número de casos do poliovírus circulante derivado da vacina chegou a 72, com 30 na Nigéria. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou que Etiópia e Guiné Equatorial registraram seus primeiros casos desse tipo de poliovírus desde a última reunião do comitê de emergência. A maioria dos casos foi importada do Sudão e do Chade.
Esse tipo de poliovírus surge porque a vacina oral contém o vírus ativo, mas enfraquecido. Quando administrada, a vacina faz com que o organismo produza uma defesa imunológica. O vírus enfraquecido se multiplica no intestino da criança e é eliminado pelas fezes. Em áreas com saneamento precário, o vírus enfraquecido pode contaminar outras pessoas, o que, em alguns casos, ajuda na imunização coletiva. O problema ocorre em regiões com baixa cobertura vacinal, onde o vírus pode continuar circulando e infectar crianças não imunizadas.
A OMS informou que Argélia, Costa do Marfim, Egito, Guiné Equatorial, Gâmbia, Libéria, Moçambique, Senegal, Serra Leoa, Sudão, Uganda e Zimbábue detectaram o poliovírus circulante derivado da vacina em amostras ambientais, mas, até o momento, não há casos confirmados nesses países.
Em 2023, foram confirmados 527 casos de poliovírus circulante derivado da vacina. Destes, 224 casos, ou 43%, ocorreram na República Democrática do Congo.
Faixa de Gaza
Após a reunião do comitê de emergência em 8 de julho, a OMS detectou poliovírus circulante derivado da vacina em seis amostras ambientais na Faixa de Gaza. Todas as amostras positivas foram recolhidas em 23 de junho de 2024. A entidade informou que esforços já estão em andamento para responder a esse surto.
Na semana passada, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou o envio de mais de 1 milhão de doses de vacina contra a pólio para a Faixa de Gaza. As vacinas serão administradas em cerca de 600 mil crianças de até 8 anos ao longo das próximas semanas.
Tedros destacou a necessidade de liberdade de circulação para profissionais de saúde e equipamentos médicos para garantir a segurança e eficácia das operações. Segundo ele, a detecção do vírus da pólio em amostras de esgoto na Faixa de Gaza indica que a doença está circulando na região, colocando em risco crianças não vacinadas.
O diretor-geral da OMS também enfatizou a importância de um cessar-fogo ou, pelo menos, dias de tranquilidade durante as campanhas de vacinação para proteger as crianças em Gaza contra a pólio.
A OMS alerta que crianças com menos de 5 anos estão mais vulneráveis à pólio em Gaza, especialmente bebês de até 2 anos, devido à interrupção das campanhas de vacinação de rotina causadas por quase dez meses de conflito.
Além da pólio, a OMS relatou um aumento generalizado de casos de hepatite A, diarreia e gastroenterite, à medida que as condições sanitárias se deterioram em Gaza. O esgoto tem sido derramado em ruas próximas a acampamentos destinados a pessoas deslocadas.
A doença
O vírus da pólio é altamente infeccioso e, principalmente, se transmite por via fecal-oral. Além disso, ele pode invadir o sistema nervoso central, causando paralisia. Estima-se que, em média, uma em cada duzentas infecções leva à paralisia irreversível, geralmente nas pernas. Infelizmente, entre os afetados, cerca de 5% a 10% morrem devido à paralisia dos músculos respiratórios.
Desde 1988, os casos de pólio no mundo diminuíram drasticamente, em 99%, passando de 350 mil para apenas seis casos em 2021. Esse avanço se deve, sobretudo, às campanhas de vacinação em massa. No entanto, esforços contínuos ainda são necessários para erradicar completamente o vírus.
Atualmente, a pólio permanece como a única emergência em saúde pública de importância internacional mantida pela OMS. Recentemente, na semana passada, a entidade convocou o comitê de emergência para avaliar o cenário do surto de mpox na África e, além disso, o risco de disseminação internacional da doença.