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Na onda bolsonarista radical, São Marcos também cria lista de boicote a estabelecimentos e profissionais ‘petistas’

Após a eleição, listas com nomes de comerciantes e profissionais “esquerdistas” surgiram na internet. Em São Marcos, rumores se confirmaram com a divulgação em massa de uma lista durante este final de semana. Profissionais de diversas áreas, comerciantes, professores e até os padres da Paróquia local tiveram nomes relacionados.

Atualizado em 29/11/2022 às 12:11, por Equipe SMO.

Na onda bolsonarista radical, São Marcos também cria lista de boicote a estabelecimentos e profissionais ‘petistas’

Após a eleição, listas com nomes de comerciantes e profissionais “esquerdistas” surgiram na internet. Em São Marcos, rumores se confirmaram com a divulgação em massa de uma lista durante este final de semana. Profissionais de diversas áreas, comerciantes, professores e até os padres da Paróquia local tiveram nomes relacionados. O caso é acompanhado pela Polícia Civil e têm limites éticos e legais, conforme alertam especialistas

Desgostosa com a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, uma parcela radicalizada de seu eleitorado tem organizado listas de boicote a pequenos empresários e profissionais liberais em diversas cidades no interior do Brasil.

Tachados de “comunistas” ou “petistas”, esses empresários foram expostos em redes sociais como o Twitter e o Instagram, mas seus nomes circulam principalmente em conversas privadas no WhatsApp e no Telegram. Além de prejuízo financeiro, há relatos de intimidações e até ameaças de morte.

Em São Marcos, grupos de apoio ao presidente derrotado nas urnas divulgam uma lista com cerca de 30 nomes de pessoas e estabelecimentos a serem boicotados. O SMO tomou conhecimento da lista neste domingo (13), em que estão relacionados nomes de advogados, professores, jornalistas, comerciantes e até os padres da Paróquia local.

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A reportagem conversou com o delgado Rafael Keller, titular da DP de São Marcos, que vem recebendo informações a cerca de atos criminosos envolvendo as eleições, assim como a divulgação desse tipo de lista. A orientação é para que cada cidadão que tenha sido mencionado ou tiver seu estabelecimento relacionado faça um Boletim de Ocorrência e busque amparo jurídico pois, tal ato implica em crime contra a honra. Advogados mencionados na lista também irão mover ação conjunta em defesa dos demais, mas ressaltam que é importante o registro policial.

Nas mensagens vazas e que chegar até o SMO, um dos administradores de um dos grupos ainda pede para que os demais membros complementem a lista pois, conforme ele “tá faltando muita gente”. Outro membro complemente “isso vai da merda”. Só esse grupo conta com 238 participantes. A mesma lista está sendo espalhada em diversos outros grupos e já é de conhecimento da maioria dos moradores com acesso a internet.

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Pressão para ostentar símbolos

Uma mensagem que circula entre apoiadores de Bolsonaro conclama empresários eleitores do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ostentar a estrela vermelha, símbolo do partido, nos seus estabelecimentos comerciais. “Atenção, petistas: coloquem esse adesivo na porta do seu negócio. Mostre que você tem orgulho de quem elegeu.”

Em um contexto de violência política, a exortação desperta em comerciantes não só o medo de sofrerem prejuízo financeiro, como também ataques violentos e atos de vandalismo.

Em entrevista ao portal UOL, o coordenador do núcleo de estudos judaicos do Departamento de Sociologia da UFRJ, Michel Gherman, afirmou ver no meme uma reprodução da linguagem nazista – algo, segundo o pesquisador, “típico do bolsonarismo”.

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No início da década de 1930, o regime nazista encorajou boicotes a estabelecimentos comerciais de pessoas judias, numa escalada de ódio antissemita que mais tarde culminaria em saques e atos violentos.

Há também relatos de grupos organizados que têm constrangido pequenos comerciantes, pressionando-os a exibir a bandeira do Brasil.

Entidades e advogados também são alvo

O clima de animosidade e beligerância não poupou nem mesmo entidades beneficentes, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) em Ijuí (RS), que atende pessoas com deficiência, e a Uipa em Itapetininga (SP), uma entidade de proteção dos animais. Carimbadas como esquerdistas, ambas as organizações se pronunciaram reforçando que seus funcionários e voluntários são livres para se posicionar politicamente a nível individual.

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A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo afirma já ter recebido queixas de dezenas de advogados em cidades do interior paulista incluídos nas listas de boicote. Vice-presidente da entidade, Leonardo Sica afirma que quem espalha as listas pode responder judicialmente por danos morais e materiais.

Sica explica que o movimento “extrapola o direito de crítica porque atinge a reputação profissional de pessoas, empresas e comércios, cerceando atividade profissional de alguém”, e pode ter consequências especialmente nefastas em cidades pequenas.

“As pessoas podem boicotar. Eu contrato o serviço que eu quiser, mas é uma decisão minha. O que eu não posso fazer é coordenar uma ação orquestrada contra determinado profissional”, ressalta.

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