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Memórias de uma princesa da Disney

Na coluna especial para o São Marcos Online, a psicóloga Ana Paula Fongaro reflete sobre os desafios e conquistas femininas, desconstruindo mitos e reforçando a importância da liberdade e da sororidade. Uma leitura inspiradora para o Dia da Mulher Fomos criadas para viver um amor romântico, platônico. Esperamos o príncipe encantado.

Atualizado em 06/03/2025 às 17:03, por Equipe SMO.

Memórias de uma princesa da Disney

Na coluna especial para o São Marcos Online, a psicóloga Ana Paula Fongaro reflete sobre os desafios e conquistas femininas, desconstruindo mitos e reforçando a importância da liberdade e da sororidade. Uma leitura inspiradora para o Dia da Mulher

Fomos criadas para viver um amor romântico, platônico. Esperamos o príncipe encantado. Ou seria o sapo que, depois do beijo, viraria príncipe?

Fomos criadas para viver um conto de fadas. Fantasioso.

Depois, ensinaram-nos que deveríamos ser independentes, não depender de ninguém. Fazer tudo sozinhas. As todo-poderosas. Mulheres-maravilha.

Nos incitam a competir umas com as outras. Brigar pelo quê? E por quem? Pelo sapo? Aquele que você beijou, na expectativa de que se tornasse príncipe, e que continuou sapo depois do beijo?

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Vieram com esse papo furado de conto de fadas. Essas histórias fantasiosas que nunca se concretizaram. Nos demos conta de que a realidade é bem outra — e pode ser muito mais emocionante do que a angustiante espera pelo tal príncipe. Não precisamos esperar nada nem ninguém.

Encheram nossas cabeças, desde pequenas, com essa baboseira toda. Criadas para lavar, passar, servir, procriar.

Por que não nos criaram para sermos livres, independentes e ricas? Somos o legado de uma sociedade predominantemente patriarcal e machista. E temos que dar conta disso.

Fomos instruídas para sermos “boas moças”. Para casar bem. Ser boas mães. Escravas e alienadas. Presas à ditadura da beleza, ao padrão estético, aos procedimentos invasivos, ao botox, aos cuidados com os outros. Com a casa. Os filhos. Alimentar todos.

Timidamente, conquistamos nosso espaço — a duras penas. A duras penas porque ainda precisamos lutar batalhas infindáveis, desnecessárias e improdutivas, porque algumas bestas ainda se acham donas da gente.

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Quantas de nós são podadas e flageladas dentro de suas próprias casas?
Discriminadas?
Maltratadas física, verbal e psicologicamente?

Fomos criadas para sermos frágeis, submissas, mudas, indefesas.

Não tínhamos direito de nos sentar à mesa. Não tínhamos direito à voz. Não tínhamos direito ao voto.

Quanto mais calada, melhor. Escravas. Sem poder de fala, sem poder de escolha, sem poder algum.

Mas nem nós mesmas sabemos a força que temos — até acessarmos essa força. E aí, meu bem, ninguém nos segura.

A liberdade de uma mulher ofende, não é mesmo? Uma mulher liberta — aquela que foi criada para ser submissa — ofende. Vê-la ascender, vê-la livre financeiramente, profissionalmente e sexualmente, fere. Fere muitos egos inflados.

Apesar dos inúmeros abusos sofridos, ascendemos.

E o mais engraçado? Fazemos tudo isso de salto alto e batom vermelho na boca.

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Ainda que pareça que somos livres, não somos. Somos prisioneiras da indústria da beleza, da moda, do fetiche masculino. Nos cobram uma juventude eterna. Devemos ser as mulheres-maravilha. E nos cobramos para ser. Afinal, a sombra das cuidadoras nos habita. O cuidado, a prole, a mãe — os papéis que desempenhamos se entrelaçam com nossos seres.

Criamos um mausoléu de crenças limitantes dentro de nossas próprias cabeças, com medo de sair até o portão de casa.

O que vão falar?
O que meu pai vai achar?
Meu marido vai gostar?
E se ninguém quiser casar comigo?

Mas quem disse que queremos o casamento? A prisão? Algumas realmente gostam e querem. Outras, nem pensar.

Nos cansamos dessa palhaçada toda.

Conto de fadas para quem? Não, obrigada!

Não vamos mais propagar esses contos ilusórios. Este é um passado que não queremos mais em nossos presentes.

As Cinderelas e princesas da Disney de ontem podem ser as bruxas de hoje. Cuidado com elas!

Cuidado com as bruxas.

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Somos as netas das bruxas. Muitas foram queimadas vivas. Elas foram muitas! Elas são muitas! Somos todas nós!

E agora cooperamos umas com as outras. Não competimos. Não mais. Somos melhores juntas!

Utópico? Pode ser. Mas essa é a fantasia que pode se tornar real, ao menos.

Somos livres para ir. E vir. Saímos do castelo a hora que bem entendermos. Somos donas do próprio castelo.

E o melhor? Descobrimos que não precisamos mais beijar sapos.

Feliz Dia da Mulher!

Ana Paula Fongaro – Psicóloga

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