Festa do Divino movimenta Criúva, comunidade-irmã de São Marcos
Distrito de Caxias do Sul inicia hoje celebração da tradição religiosa herdada dos portugueses. Confira detalhes e programação na reportagem Criúva está nos preparativos finais para a Festa do Divino Espírito Santo. Os trabalhos começaram em fevereiro e vão se intensificar nos próximos dias.

Distrito de Caxias do Sul inicia hoje celebração da tradição religiosa herdada dos portugueses. Confira detalhes e programação na reportagem
Criúva está nos preparativos finais para a Festa do Divino Espírito Santo. Os trabalhos começaram em fevereiro e vão se intensificar nos próximos dias. O ponto alto será no domingo dia 21 de maio, com procissões, missa solene, almoço, danças e novenas (confira a programação completa abaixo).
Quando a Festa do Divino é mencionada em qualquer roda, inevitavelmente vem à lembrança as cantorias, a bandeira vermelha, a pomba branca. São as louvações, atividades levadas aos quatro cantos a fim de convocar o povo para a festa. Neste ano, as louvações visitaram cerca de 600 pontos de São Marcos, Caxias e Flores da Cunha.
Escolas, clubes, empresas, entidades, prefeituras, entre outros lugares, receberam a comitiva desde fevereiro. Num dia chuvoso do fim de abril, por exemplo, a louvação foi encenada em 18 endereços diferentes de São Marcos.
Origens da celebração

A Festa do Divino celebra o Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Novo Testamento registra que o Espírito Santo desceu do céu sobre os 12 apóstolos de Jesus e sobre a Virgem Maria 50 dias após a ressureição de Cristo (atual Páscoa). O Espírito Santo apareceu na forma de línguas de fogo, representadas pela bandeira vermelha nas atuais festas.
Esse evento ficou conhecido como Dia de Pentecostes. No Hemisfério Norte, o Pentecostes coincide com o começo da colheita agrícola (primavera). Por isso, nos primórdios a data ficou marcada como o anúncio de uma nova era para mundo dos homens, com igualdade, prosperidade e abundância.
Na Idade Média, a Rainha Isabel de Aragão, de Portugal, deu nova roupagem a Pentecostes. Corria o século 14, e a rainha apelou ao Espirito Santo para que seu marido, o Rei D. Diniz, selasse a paz com o filho do casal, Dom Afonso, herdeiro legítimo do trono. Consta que o rei ameaçava entregar o trono ao seu filho bastardo, Afonso Sanches.
Dos Açores à Criúva

As orações e súplicas da Rainha deram resultado e a tradição de louvar o Espírito Santo se espalhou. A festa encontrou solo fértil no Arquipélago dos Açores, origem de muitos portugueses que colonizaram o Brasil, Criúva inclusive. Curiosidade: consta que a localidade de Ilhéus tem esse nome por conta dos colonizadores oriundos das Ilhas dos Açores. Teria sido eles, portanto, que trouxeram a tradição de louvar o Espírito Santo.
Em Criúva, a Festa do Divino não é celebrada no Pentecostes, 50 dias após a Páscoa. Segundo o padre Mário Pereira dos Santos, a festa é antecipada em uma semana para não coincidir com Caravaggio, em 26 de maio, maior manifestação religiosa da região. A própria Criúva celebra Caravaggio, na localidade de Tuiuti (neste ano, a celebração terá o ponto alto em 28 de maio).
“Todas as famílias recebem visita da louvação”, diz padre

Como de hábito, neste ano as louvações que antecedem a Festa do Divino foram levadas às 16 capelas que formam a paróquia de Criúva.
“Praticamente todas as famílias do distrito recebem a visita da louvação”, afirma padre Mario Pereira dos Santos, pároco de Criúva.
Foram cerca de 30 dias de andanças pelas estradinhas do distrito.
Nas capelas, a louvação é comandada pelos alferes, casais que possuem réplicas da bandeira e visitam os moradores.
Nas casas do interior, a louvação do Divino segue um roteiro mais ou menos semelhante em todos os pontos em que aporta. Em resumo: o grupo chega cantando o Hino do Espírito Santo, a bandeira do Divino é levada a todos os recintos da moradia, o padre abençoa cômodos e participantes, todos oram, os anfitriões oferecem comes e bebes, os participantes beijam a bandeira. Todos convidados para a celebração do dia 21, a comitiva parte para outra morada.
Abaixo, conheça a oração levada nas visitas de louvação.
Prece ao Divino Espírito Santo
Ó, Divino Espírito Santo, Deus das luzes e inspirador de todo o bem, esclarecei minha inteligência, iluminai os meus caminhos para que eu possa Vos sentir presente em todos os atos de minha vida.
Ensinai-me o dom divino de saber compreender e perdoar àqueles que não me compreendem e me fazem mal.
Ensinai-me a levar amor onde há ódio, a verdade onde há erro, a fé onde há dúvida e alegria onde há tristeza.
Ó, Divino Espírito Santo, amor e unidade do Pai, fazei-me instrumento de Vosso amor e da Vossa no seio de minha família, no setor onde trabalho e na comunidade onde vivo.
Amém.
São Marcos é alvo preferido dos festeiros de Criúva
Embora seja distrito de Caxias, Criúva investe pesado na divulgação da Festa do Divino em São Marcos. Faz sentido, pois é notório que Criúva possui vínculos históricos, sociais, econômicos e culturais bem mais robustos com os são-marquenses do que com os caxienses.
Basta recordar que, muito antes da chegada dos imigrantes italianos e poloneses, o atual território de São Marcos era habitado por descendentes de portugueses, povo que colonizou também Criúva.
A origem geopolítica de Criúva e São Marcos é a mesma. Nos primórdios, ambos territórios pertenciam a Santo Antônio da Patrulha e, depois, a São Francisco de Paula. Caxias apareceu para essas duas localidades muitas décadas depois, mas essa é outra história…
Personagens eternizam tradição
Como em todas as celebrações comunitárias, a Festa do Divino exige um vigoroso batalhão de voluntários. Neste evento religioso, contudo, além da participação voluntária, é necessário nomear pessoas que encarnem os personagens que encenam o folguedo e eternizam a tradição.
Os principais personagens e símbolos são cultuados desde a Idade Média, na origem portuguesa da festa:
- Imperador – Recebe a bandeira e comanda a festa
- Capitão do Mastro – Coordena a louvação e porta a bandeira
- Mordomos – Serviçais da festa. São os mordomos que organizam o Bodo, atividade solidária da manifestação
- Aias – Damas de companhia
- Festeiros – Têm a função de divulgar o evento
- Músicos – Animam as louvações com bumbo, violão e gaita
- Bandeira vermelha – língua de fogo com que o Espírito Santo cobriu os 12 apóstolos e a Virgem Maria anunciando a nova era
- Pomba branca – símbolo do Espírito Santo e figura muito presente na Bíblia (Noé soltava uma pomba para verificar se havia terra nas proximidades da arca)
Veja quem é quem em Criúva
- Imperadores: Marcílio Andrade de Araújo e Liete Maria de Araújo
- Capitães do Mastro: Alfredo de Lavra Pinto e Neiva Suzana dos Reis de Lavra Pinto
- Aia: Marthina Gabriela Ballardin de Camargo
- Mordomos: Ênio da Rosa e Regina Vitória Doncatto
- Luiz Antônio Rizzon e Inês Vanin Rizzon
- Festeiros de Criúva: Antonio Ruben de Castilhos e Marta Regina Sandri de Castilhos
- Aia: Ana Lara de Castilhos Gomes
- Festeiros de Caxias: Jair Rossoni e Leonice Pelizzari Rossoni
- Aia: Maria Luiza Soldera
- Festeiros de São Marcos: João Carlos Caminhaga dos Reis e Ana Vanin dos Reis
- Aia: Poliana Sogari Pante
- Festeira de Honra: Ana Dione Marcon Francischelli
- Aia: Laura Mota
- Orador: Vanderlei José Rech
- Louvação: Grupo de Louvação
- Bumbo: Silmar dos Reis
- Gaiteiro: Carlos dos Passos
- Violeiros: João dos Reis e Hélio dos Santos
- Padres da paróquia: Mário Pereira dos Santos, Jairo Grison, João Corbellini e Vitor Aquiles Cecatto
Cidadãos centenários são homenageados
Em novembro do ano passado, Criúva celebrou com pompa 250 anos de existência. Pompa semelhante foi aplicada no sábado dia 6, quando um almoço foi servido aos moradores com mais de 80 anos de idade.
O almoço integrou a programação da Festa do Divino. Chamada de Bodo, a atividade materializa o caráter solidário da manifestação. No ano passado, o Bodo de Criúva reuniu as crianças da localidade para uma festa. Na Portugal dos anos 1300, o Bodo era caracterizado pela distribuição de esmolas aos pobres.
Curiosidade no Bodo do dia 6: juntos, quatro moradores de Criúva somaram 400 anos de idade.
São eles:
- Arminda Nunes Martins de Melo, a Dona Lossa, 103 anos
- Angelo Salafra, 102 anos
- Dilecta Eurélia Negrini (Dona Dileta), 100 anos
- Antonio Rizzon, 95 anos
Adelar Bertussi gravou hino composto por Boca de Sino
As louvações são embaladas por uma trilha sonora famosa na região. É o Hino do Espírito Santo, toada composta por Jorge Rodrigues, o Boca de Sino. Boca de Sino tem 80 anos e é figura conhecida em Criúva e região.
A composição, intitulada Bandeira do Divino, foi eternizada por Adelar Bertussi. Em 1984, o ilustre filho de São Jorge da Mulada gravou a criação de Boca de Sino no LP Adelar Bertussi e Grupo Coração Gaúcho.
A canção fecha o disco de 12 composições. Ouça:
Programação intensiva começa no dia 12
As atividades abertas ao público começam dia 12 de maio com ações noturnas até o dia 21, data da grande festa. No almoço do dia 21 são esperadas 1,4 mil pessoas. Ao longo de 10 dias, a programação mescla atos religiosos com comidas, bebidas e música, sempre no Salão Paroquial de Criúva.
Entre a intensa agenda, os organizadores destacam o baile com Os Monarcas, dia 19. A programação é aberta ao público. A maior parte dos bailes terá entrada franca). Ingressos para os jantares e almoço do dia 21 disponíveis no Posto MC de São Marcos e na Casa Paroquial de São Marcos. Reservas com Izidoro: 9917.16412.
Mais informações: 3267.8201. Programe-se:
Dia 12, sexta-feira
- 18h – Levantamento do mastro e hasteamento da Bandeira do Divino
- 19h30 – Novena dedicada aos ex-festeiros, Capitães do Mastro, Aias, Imperadores, Festeiras de Honra, Mordomos e Devotos
- Tema – O Dom da Sabedoria e o Amor do Pai
- Pregador – Padre João Corbellini
- Jantar – Sopa de agnolini, galeto, churrasco, maionese, salada, pão e vinho (R$ 60,00)
- Música – Os Queras (baile com entrada franca)
Dia 13, sábado
- 19h30 – Noite Gaúcha com Missa Crioula, novena dedicada aos CTGs, a padre Pedro Rizzon e devotos
- Tema – O Dom do Entendimento e o Caminho que leva ao Pai
- Pregador – padre Mário Pereira dos Santos
- Jantar – Comida campeira (R$ 80,00)
- Música – Daniel Hack e Gaúchos Lá de Fora (baile cortesia para quem participar do jantar. Aos demais, ingresso na portaria)
Dia 14, domingo
- 19h30 – Novena dedicada aos moradores das capelas Nossa Senhora das Graça, Santa Catarina, Santo Antônio, Santa Bárbara, Santo Isidoro, São Judas Tadeu, São Paulo e às mães e devotos
- Tema – O Dom do Conselho na Caminhada de Jesus
- Pregador – padre Oscar Chemello
- Jantar – Sopa de agnoline, galeto, churrasco, maionese, salada, pão e vinho (R$ 60,00)
- Música – Grupo Chimarrão (baile com entrada franca)
Dia 15, segunda-feira
- 19h30 – Novena dedicada à sede de Criúva, São Manoel, Campestre da Serra, São Bernardo, localidades vizinhas e devotos
- Tema – O Dom da Fortaleza e o Espírito da Verdade
- Pregador – padre Juares Bavaresco
- Jantar – Massa, carne de porco, galeto, salada, pão e vinho (R$ 50,00)
- Música – Grupo da Louvação (baile com entrada franca)
Dia 16, terça-feira
- 19h30 – Novena dedicada aos idosos e às capelas Menino Deus, Santo Expedito, São Francisco, São Jorge, São Sebastião, Nossa Senhora Aparecida, São João, Santos Reis e devotos
- Tema – O Dom da Piedade no Seguimento de Jesus
- Pregador – padre Gustavo Predebom
- Jantar – Sopa de agnoline, galeto, carne de porco, maionese, salada, pão e vinho (R$ 60,00)
- Música – Grupo Festerê (baile com entrada franca)
Dia 17, quarta-feira
- 19h30min – Novena dedicada a todas as etnias e devotos
- Tema – O Dom da Ciência na Manifestação da Glória
- Pregador – padre Tadeu Libardi
- Jantar – Tortéi, galeto, carne de porco, maionese, salada, pão e vinho (R$ 60,00)
- Música – Grupo Sanfonaço (baile com entrada franca)
Dia 18, quinta-feira
- 19h30min – Novena dedicada aos jovens, agentes de saúde e devotos
- Tema – Santo Temor de Deus com Olhar Fixo em Jesus
- Pregador – padre Paulo Venturini
- Jantar – Macarrão, galeto, salada, pão e vinho (R$ 45,00)
- Música – Banda San Marino (ingresso ao baile será cobrado na portaria. Mesa gratuita)
Dia 19, sexta-feira
- 19h30 – Novena dedicada aos são-marquenses, caxienses, florenses, municípios vizinhos e devotos
- Tema – O Dom da Fé e a Confiança em Deus
- Pregador – padre Renato Arioti
- Jantar – Sopa de agnoline, galeto, churrasco, maionese, salada, pão e vinho (R$ 60,00)
- Música – Os Monarcas (mesa a R$ 300,00. Reservas com José ou Lurdes: 9991.95385 e 9990.81511)
Dia 20, sábado
- 19h30min – Novena dedicada a todos os devotos do Divino, movimentos da Igreja e comunidades que festejam o Divino Espírito Santo
- Tema – O Dom da Cura e o Mandamento do Amor
- Pregador – padre Marciano Guerra
- Jantar – Sopa de agnolini, galeto, churrasco, maionese, salada, pão e vinho (R$ 60,00)
- Música – Rogério dos Passos e Grupo Marca Serrana (baile com entrada franca)
Dia 21, domingo
- 9h – Procissões preparatórias
- 10h – Missa Solene e procissão com o Esplendor do Divino
- Tema – Os Dons do Espírito Santo na Caminhada da Igreja
- Pregador – Dom José Gislon
- 12h – Almoço tradicional com venda de churrasco e galeto (R$ 65,00)
- 14h30 – Nomeação dos novos festeiros
- 15h30 – Reunião dançante com Rogério dos Passos e Grupo Marca Serrana (entrada franca)
- 16h30 – Leilão de terneiros em frente ao salão