Devolvam o Arroio Gravatá para a cidade
Dá pra afirmar com poucas possibilidades de errar: a cada chuva intensa o morador da área urbana de São Marcos teme alagamentos. Também dá pra afirmar que o principal alvo das preocupações do morador é o Arroio Gravatá.

Dá pra afirmar com poucas possibilidades de errar: a cada chuva intensa o morador da área urbana de São Marcos teme alagamentos. Também dá pra afirmar que o principal alvo das preocupações do morador é o Arroio Gravatá. Leia mais no artigo do jornalista e paisagista Gilberto Blume
Esse mesmo temor de alagamentos e esse mesmo olhar tenso para o Arroio Gravatá também atormentam as autoridades. Contudo, há enorme diferença entre uns e outros, entre o morador e as autoridades.
O morador é o alagado, a vítima, o sofredor; a autoridade é quem corre dar explicações, desfia enorme (e ineficaz) rosário de obras e promete, promete, promete. A autoridade, também sem medo de errar, trabalhou décadas, incansavelmente, para tirar o Arroio Gravatá da paisagem da cidade.
Ao enterrar o arroio, gastou quantidades enormes de dinheiro a fim de viabilizar que empresas e moradores ocupassem algumas centenas de lotes em área nobre, sobre o arroio enterrado.
Valeu a pena?
Depende do ponto de vista. Do ponto de vista coletivo, ambiental e paisagístico não valeu a pena enterrar o Arroio Gravatá.
Tem jeito?
Com boa vontade, audácia e assessoria especializada, tem jeito.
O Gravatá que hoje serpenteia escondido sob casas e empresas deveria correr livre. O manancial é (ainda é, sim) uma riqueza da cidade, não merece estar concretado e trazendo dor-de-cabeça a cada enxurrada.
Há soluções e técnicas contra alagamentos sendo experimentadas com sucesso mundo afora. Em comum, todos os especialistas defendem que arroios e córregos urbanos devem ser mantidos em paz. Quando o estrago já foi feito, caso do Gravatá, tem-se recorrido à renaturalização. Em miúdos, trata-se de recuperar o ambiente, tentar trazê-lo a sua forma original, ressuscitá-lo, livrá-lo das equivocadas intervenções humanas.
Renaturalizar é verbo amplo, abarca um sem-número de ações que, combinadas, reduzem os danos provocados pelas enxurradas.
São as chamadas cidades-esponja, os jardins-de-chuva, os piscinões que armazenam a água da chuva que o solo não teve capacidade de absorver (há anos, Caxias do Sul investiu em piscinões e minimizou sobremaneira os históricos alagamentos em pontos críticos).


Nesse combo entra, também e fundamentalmente, parar de asfaltar ruas. Asfalto é importante, sim, mas talvez nas estradas do interior.
Impermeabilizar a área central com asfalto é vital?
Não, não é vital. Tampouco é sustentável, estético, bonito.
Delírios? Nesses tempos em que corremos contra o relógio ambiental, “delirar” pode ser boa alternativa para minimizar nossas ações danosas, impensadas, equivocadas, criminosas.
Enterrar e desviar cursos naturais de água e aplicar asfalto indiscriminadamente são excelente combinação para atrair problemas.
Está para aparecer em São Marcos autoridade corajosa e interessada em reconhecer que o Arroio Gravatá é vital e arregaçar as mangas para devolver o arroio para a cidade. Caso surja alguém capaz de tranquilizar o morador urbano a cada chuva, esse ser vai inscrever seu nome na história.
Há candidatos a fim de encarar o desafio?
Entre em contato com Gilberto: blumepequenaspaisagens@gmail.com