Cemitério Maldito: nova versão entrega terror com muita qualidade técnica e dramática
Normalmente as releituras de clássicos entregam um produto bem inferior do seu original. Dificilmente os novos condutores conseguem emular o clima que transformou a história em obra prima. Podemos citar várias películas, dos últimos anos, que caíram nesta armadilha.

Normalmente as releituras de clássicos entregam um produto bem inferior do seu original. Dificilmente os novos condutores conseguem emular o clima que transformou a história em obra prima. Podemos citar várias películas, dos últimos anos, que caíram nesta armadilha. No terror foram feitas péssimas novas adaptações para “A Hora do Espanto” (1986 e 2011), “O Chamado” (2002/2017), “Horror em Amitivile” (1979 e 2005), a “Hora do Pesadelo”(1984 e 2010) e até em “Alien” (1979/2017) ou “ O Predador” (1987 e 2018). Provavelmente muitos destes filmes você nem sabia que tinham remake, de tão ruim que ficou a cópia. No entanto, as refilmagens das obras de Stephen King estão conseguindo escapar desta tendência. Ano passado tivemos a ótima reapresentação de “IT”, sobre o palhaço macabro, que foi produzido em duas partes. Já em 2019, fomos presenteados com a bem elaborada refilmagem de “Cemitério Maldito”, sucesso dos cinemas, lançado há trinta anos.
Encontrando a paz eterna

Em Cemitério Maldito a família Creed vai morar no interior, buscando paz e tranquilidade para criar seus filhos. O pai, Louis (Jason Clarke) é um médico que decide abandonar a extenuante rotina da cidade para ter mais tempo com a esposa Rachel (Amy Seimetz), a filha Ellie (Jeté Laurence) o filho, Gage (Hugo Lavoie e Lucas Lavoie), e o gato Church. Ao chegarem na nova casa, na beira de uma enorme rodovia, descobrem que a área de sua propriedade é grandiosa. Não demora para a pequena Elie explorar o território e descobrir que dentro dele se encontra um cemitério de animais de estimação. No cemitério ela conhece o idoso Jud (John Lithgow), que parece conhecer tudo naquela região e logo se afeiçoa a menina e sua família.
Inferno Astral

A garota parece não se adaptar na nova casa. Para piorar, em sua festa de aniversário, seu gato foge e acaba morto por atropelamento na rodovia. Ao encontrar o corpo do animal, Jud propõe ao médico que eles o enterrem a noite, para não chocar a menina. Logo os dois se dirigem ao cemitério de animais. Chegando lá, Jud se apieda da pequena e propõe que o pai leve o gato até um lugar um pouco mais distante. Eles carregam o corpo do bicho até um cemitério índio amaldiçoado, que ressuscita o que nele é sepultado. Não demora e o gato retorna vivo para a residência dos Creed. Mas o animal que volta é muito mais violento e maligno que o bichano atropelado. Será que estas mudanças também ocorreriam se um ser humano fosse enterrado no cemitério maldito¿ É isto que a família de Louis está prestes a descobrir.
Qualidade como herança

A diferença desta cópia de Cemitério Maldito, em relação a de 1989, é que no passado o filme foi tratado como trash. Embora tenha qualidade, o antigo longa foi feito com pouquíssimos investimentos, tornando-se clássico pelo ótimo enredo e pela música tema, dos Ramones, que fez sucesso naquela geração. Já a direção atual apercebeu-se que o mercado de filmes de terror é extremamente rentável e resolveu investir mais na produção. As locações, embora não pareçam ser feitas em CGI, são de uma qualidade enorme. Enquanto o Cemitério de 1989 era um lugar ermo, sem causar muita estranheza, o atual é apavorador. Outras situações como o acidente com o caminhão na rodovia também são bem diferentes. No passado se escondeu o evento, por não ser possível mostrá-lo em toda grandeza. No filme de hoje é feito uma filmagem “slow motion” que traz em detalhes uma jamanta perdendo a direção e se fechando em L, numa terrível conclusão.
A Interpretação final

A interpretação também é muito diferente nesta cópia. Em 1989 tivemos atores desconhecidos para interpretar os personagens. Já no filme atual são escalados grandes astros como Jason Clarke, John Lithgow, e a pequena, mas ótima, Jeté Laurence. Eles conseguem dar uma profundidade a personalidade dos protagonistas que o longa de 1989 sequer raspava. Mais que isto, desenvolvem muito bem a principal questão da obra: A morte seria o pior dos acontecimentos ou as vezes encontrar-se com o fim é melhor que continuar de outra forma. Esta é uma dúvida profunda, que permeia todo o enredo. Quanto aos sustos, óbvio que existem jump scares (pulos de medo), mas o que se sobressai é o terror psicológico, muito diferente do filme original.
Vale a pena morrer de novo

“It” e “Cemitério Maldito” são duas ótimas surpresas das regravações das obras de Stephen King. Vamos torcer para que outras refilmagens tenham o mesmo tratamento. Isto será necessário quando tiverem a coragem de refazer filmes como “O Iluminado”(1980), “Cujo”(1983), “Cristine, o Carro Assassino”(1983) ou “Colheita Maldita”(1984). Que os novos diretores compreendam que, se o cinema de terror consegue um grande retorno financeiro, seus fãs merecem a qualidade que o lucro garante. Que não façam filmes trash, de grandes bilheterias. Aproveitem o dinheiro para realizar obras primas. Isto é fundamental para jamais deixar este gênero cinematográfico morrer. Até porque não existe um cemitério índio a disposição para ressuscitar, mais uma vez, estes longas, queridos pelos fãs. Mesmo que houvesse, vimos que o resultado desta experiência não é exatamente o ideal.
Trailers:
Elenco e citações
- Dr. Louis Creed – Jason Clarke, O Exterminador do Futuro, 2015
- Rachel Creed – Amy Seimetz, Alien: Covenant, 2017
- Jud Crandall – John Lithgow, Interestelar, 2014
- Ellie Creed – Jeté Laurence, Sand Castle, 2015
- Gage Creed – Apresentando Hugo & Lucas Lavoie