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“As pontes e enchentes na história de São Marcos”

Neste ano o município completa 60 anos e para comemorar, o Portal São Marcos Online convidou o historiador Robson Cioato para narrar essa trajetória.

Atualizado em 19/09/2023 às 09:09, por Equipe SMO.

“As pontes e enchentes na história de São Marcos”

Neste ano o município completa 60 anos e para comemorar, o Portal São Marcos Online convidou o historiador Robson Cioato para narrar essa trajetória. Nesta edição, Cioato traz pesquisa sobre a história da ponte Ponte do Rio das Antas (interditada) e outras conexões importantes com a cidade

As estradas são para os municípios, como veias para circulação de sangue, e de nada adianta, munícipios prósperos e produtivos, se não existirem boas estradas para escoação de produtos e mercadorias. O transporte desenvolve um grande papel na redução dos custos de produção e distribuição, fazendo com que os produtos sejam mais acessíveis para a população. Além disto, é pelo transporte e pelas estradas que são conectadas diferentes regiões do país, viabilizando o comercio interno e a circulação de pessoas e mercadorias.

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A construção das estradas, sempre foi debatida pelos governantes desde da época da província após a colonização da serra gaúcha, era preciso diminuir distâncias e trazer progresso para as cidades que vinham sendo criadas. Ainda no início de 1900 foi decidido pelo governo provincial do Rio Grande do Sul que seria realizada a construção da primeira ponte que atravessaria o Rio das Antas, essa faria ligação entre Nova Trento (hoje Flores da Cunha) ao município de Antônio Prado.

Após inúmeros debates políticos visando diferentes interesses, conseguiram a mudança do lugar da referida ponte, que passaria pelo Passo do Simão, alegando que com a mudança, para que ela atravessasse sobre o Passo do Korff em Criúva, viabilizaria a conexão de Caxias e Porto Alegre em direção à Vacaria.

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Borges de Medeiros, mesmo contrariado, negociou com os políticos, que faria a troca da mesma somente se eles arcassem com os custos de transporte do material, esse oriundo da Alemanha, que já se encontrava no Passo do Simão para o Passo do Korff em Criúva. Em 1907, inúmeras pessoas da região acompanharam a inauguração da ponte metálica, existente até hoje.

Ponte dos Korff, construída em 1907, foi declarada patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul no ano de 2006

A mudança de trajeto foi sentida pelos moradores de Antônio Prado, que que por várias décadas ficaram isolados e expressaram inúmeras vezes seu descontentamento, como podemos ver no excerto abaixo publicado no Jornal “O Pioneiro” no ano de 1948:

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[…]Que falta faz a ponte! É a exclamação que se houve de todos os pradenses […] é verdade que o governo contruiu sobre o Rio das Antas magnifica de ponte de ferro. Mas foi construída em um ponto afastadíssimo e inútil para Antônio Prado, num local conhecido como “Passagem korff” e onde, de fato, passam apenas, e isso de quando em vez, algumas tropas de gado… […] “Que falta nos faz a ponte”, exclamam, tristemente os pradenses, vendo o desenvolvimento do seu município entravado e incompreendido. […]

Sobre a BR116 entre Caxias do Sul e São Marcos, ainda na década de 30 anunciada, foi inaugurada no dia 9 de novembro de 1941, faltava, no entanto, uma ponte sobre o Rio das Antas que ligasse diretamente São Marcos a Vacaria (lembrando que Campestre da Serra foi emancipada somente em 1991, pertencendo na época a Vacaria). A ponte já havia sido anunciada com entusiasmo no ano de 1939 pelo prefeito de Caxias do Sul durante uma visita para conferir as obras da Estrada Federal. Passaram alguns anos, e somente no ano de 1943 os jornais da época anunciaram que a espera finalmente iria terminar como segue abaixo:

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[…] Dos 55 quilômetros terminados de Caxias até as margens do Rio das Antas, 35 quilômetros ligam Caxias a São Marcos, achando-se em condições de trafego embora não estejam completamente prontos […] A ponte do Rio das Antas, obra d’ arte de maior vulto e de não menor responsabilidade será atacada imediatamente, Convém ressaltar de Caxias a Vacaria, todas as obras, todos os trabalhos são e serão responsabilidades do D.N.E.R.

Essa ponte de extrema importância e utilidade para os moradores de Vacaria e São Marcos foi recebida com alegria e entusiasmo, e juntamente com a BR116 acabou se tornando uma importante ligação de São Marcos com o resto do Brasil, que desciam a serra do Rio das Antas, passando pela estrada agora interditada, chegando a Vacaria, cruzando a Ponte do Rio Pelotas em direção a Santa Catarina. A ponte se mostrou resistente as intempéries do tempo, até esse ano, onde os indicies pluviométricos chegaram a níveis recordes, causando danos na sua estrutura

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Sobre as enchentes, essas dificilmente afetaram a serra gaúcha como na última ocorrida no início de setembro, nas regiões próximas a capital gaúcha, uma grande cheia foi registrada em 1912 alagando várias ruas de Porto Alegre, na época considerada a maior de todos os tempos na cidade, sendo no ano de 1941 superada, onde durante 22 dias de chuva alcançaram mais de 4,7 metros, enquanto a média normal era de 1 metro, deixando o centro da cidade da cidade de Porto Alegre em baixo da água não afetando diretamente a serra gaúcha.

Fila de caminhões esperando a ponte que seria construída pelo exército sobre o Rio Pelotas em 1965, acervo de José Jordão Marciglio

Voltando a falar sobre a ponte do Rio Pelotas, até hoje pessoas visitam os destroços da antiga levada em 1965, e para os que não se recordam, em agosto de 1965 uma grande enchente atingiu o Rio Grande do Sul, no dia 16 de agosto após um dia de tempo abafado e inúmeros dias sem chover, desencadeou-se um verdadeiro diluvio, as águas dos rios desceram levando tudo que achavam no caminho. Se não bastasse, um dia depois, as águas do Rio Pelotas tomaram enormes volumes, rio abaixo desciam pipas de vinho, casas, galpões, vacas, serrarias, cães e inúmeros entulhos que se chocavam com a primeira ponte construída em 1935 que por volta das 14 horas acabou ruindo. Uma fila de caminhões se formava na cabeceira da ponte de ambos lados, dois ônibus da empresa Bianchi e cia. ali chegaram, enquanto o primeiro atravessou a ponte, o motorista do segundo ônibus optou por não arriscar. Um passageiro de São Paulo chamado Joel Mello, optou por descer do ônibus com o intuito de conferir pessoalmente o estado da ponte. Ao chegar em cima da referida, às 14 horas e 20 minutos da tarde, a ponte partiu-se ao meio, levando o passageiro juntamente com ela, esse senhor tragado pelas águas nunca mais foi encontrado.

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Naquela mesma ocasião os Rios São Marcos, Rio das Antas, e Rio Redondo também apresentaram um número volumoso de agua, moradores das redondezas que testemunharam afirmam que nunca haviam visto tanta água. Casas localizadas nas margens do Rio Redondo tiveram vários itens que ficavam alocados nos porões levados pelo rio impetuoso. A ponte do Rio das Antas entre São Marcos e Vacaria, também na ocasião foi interditada conforme apuraram os jornais da época com informações da Policia Rodoviária.

Se não bastasse, no dia 19, uma grande nevasca atingiu o Rio Grande do Sul, aumentando cada vez o isolamento do nosso estado, durante 2 dias e 3 noites a neve não deu trégua, os galhos das árvores se partiam devido ao peso da neve, e as pessoas eram obrigadas a subir nas casas para retirar a neve dos telhados evitando desabamentos. Quando o sol tornou a aparecer, no dia 22 de agosto, começaram os trabalhos para reestabelecer a ligação entre os dois estados, a Força Área Brasileira realizava ponte área entre Lages e Vacaria, e barqueiros começaram a transportar pessoas de um lado para o outro do rio.

No dia 27, o exército brasileiro realizou a construção de uma ponte fluente sobre o Rio Pelotas, barcos de metal foram colocados lado a lado atravessando de fora a fora o rio, e pranchas de madeira foram colocados em cima, a ponte provisória suportava 20 toneladas, como na época não existia uma legislação sobre o número de toneladas que os caminhões poderiam transportar, ao chegar na ponte, muitos baldeavam a carga até chegar no peso exigido, carregando novamente a carga do outro lado e seguindo viagem. No final do mesmo ano a atual ponte sobre o Rio Pelotas entre o Rio Grande Do Sul e Vacaria foi inaugurada dando fim ao período de intranquilidade.

Construção da Ponte dos Suspiros, entre Flores da Cunha e Antônio Prado assim apelidada pelas décadas de espera

A ponte questionada no início da matéria, sobre o Passo do Zeferino, esperada pela cidade de Antônio Prado por mais de 50 anos, foi inaugurada somente em 2 de junho de 1968, apelidada de Ponte dos Suspiros, devido a longa espera, essa faz a ligação de Caxias a Vacaria passando por Flores da Cunha. Naquele dia grandes festividades foram realizadas com a presença do Governador do Estado Walter Perachi Barcellos.

Mesmo com melhorias, a Br 116 que corta São Marcos sofre com o problema crônico de queda de barreiras e deslizamentos nos meses chuvosos, novamente no ano de 1983, após longos dias de chuvas torrenciais, inúmeros pontos da BR116 sofreram com queda de barreiras e água sobre a pista

A velocidade com que a tecnologia nos traz a informação nos recorda que anualmente, no mínimo 5 vezes por ano os portais de notícias nos indicam quedas de barreira entre Caxias do Sul e Campestre da Serra. Acontece que desde a época da construção até os dias atuais, tanto as autoridades são-marquenses como os moradores, solicitam melhorias nesse trecho da rodovia, conforme vemos abaixo:

As enchentes e cheias impactantes também foram vistas em 1979, 2001 e em 2020, embora em menores proporções da última ocorrida no início de setembro, em 2020, cerca de 95 famílias residentes nas margens do Rio Taquari, tiveram seus pertences levados pelo rio, naquele ano cerca de 300 milímetros de precipitação ocorreram em cerca de 10 dias.

Segundo depoimento coletado pelo São Marcos online, há mais de 40 anos o rio das Antas não havia chegado ao nível que chegou no último dia 04 de setembro, tendo chovido em 3 dias cerca de 300 milímetros, fazendo com que nos dias 04 e 05, a defesa civil do Rio Grande do Sul emitisse uma série de alertas de cheias dos Rios Taquari, Caí e Antas, bem como de alagamentos, enxurradas, cheias em arroios, inundações gradativas. Mais de 47 mortos foram confirmados, 30 mil animais mortos e mais de 25 mil pessoas desabrigadas, isso representa um número maior do que dos habitantes da cidade de São Marcos, ocasionando tambéms um prejuízo de 80 bilhões.

Apesar da situação de tristeza em meio a tantas perdas, a solidariedade e o espirito de cooperação nutridos por uma comoção regional e nacional, mostraram o quanto o Rio Grande do Sul é forte, sabe-se que as ações do governo estadual têm se caracterizado por um forte estímulo para a volta a uma suposta normalidade em um momento absolutamente anormal. Enquanto isso, os gaúchos se estendem as mãos, levando para as cidades afetadas, mantimentos, auxiliando na organização e até mesmo fazendo doações em materiais de limpeza, higiene pessoal, comida, água e dinheiro para os que sofreram perdas.

Robson Cioato é professor, historiador e pesquisador na cidade de São Marcos, formado em Licenciatura Plena em História e acadêmico Imortal na Academia Luso-Brasileira de Letras do Rio Grande do Sul (A.L.B.L).