A formação continuada e sua relação entre o cotidiano escolar e a identidade docente
Para ser um professor que esteja apto a praticar o conceito de reflexão, ele deve estar aberto a novas maneiras de exercer sua profissão, modificando o modo de trabalhar os conhecimentos, pois a prática de refletir deve ser constante em sua formação, podendo dessa forma ter uma visão mais crítica sobre sua atuação como educador.

Para ser um professor que esteja apto a praticar o conceito de reflexão, ele deve estar aberto a novas maneiras de exercer sua profissão, modificando o modo de trabalhar os conhecimentos, pois a prática de refletir deve ser constante em sua formação, podendo dessa forma ter uma visão mais crítica sobre sua atuação como educador.
Nos dias de hoje, a educação tem acompanhado um grande processo de mudanças para a melhor formação de um novo sujeito capaz de tomar suas próprias decisões e tornar-se mais crítico e objetivo. O conhecimento, no entanto, não é apenas nos livros que se encontra, mas nos diálogos, nas trocas de experiência nas quais a nossa reflexão deve ser constante. Além disso, tem-se discutido muito a respeito da formação continuada dos professores, em que estes passam de docente a aluno. A partir desse princípio, abandona-se o conceito de formação docente como processos de atualização que se dão através da aquisição de informações científicas e didáticas para adotar um conceito de formação que consiste na construção de conhecimentos e teorias sobre a prática a partir da reflexão crítica.
A importância da formação continuada para o desenvolvimento da educação
A formação continuada proporciona aos professores a oportunidade de atualizar seus conhecimentos e habilidades, conhecer novas metodologias de ensino e aprender a utilizar as novas tecnologias disponíveis. Ela permite aos docentes lidar com os diferentes perfis de alunos e suas necessidades individuais, tornando o ensino mais eficaz e significativo. Ao investir em seu próprio desenvolvimento, os educadores sentem-se mais valorizados e reconhecidos, o que reflete positivamente em sua autoestima e bem-estar. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – (LDBEN) – 9394/96 Art. 61, estabelece que:
A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: 1º- a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; 2º aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituição de ensino e outras atividades.
No entanto, para ser um professor que esteja apto a praticar o conceito de reflexão, ele deve estar aberto a novas maneiras de exercer sua profissão, modificando o modo de trabalhar os conhecimentos, pois a prática de refletir deve ser constante em sua formação, podendo dessa forma ter uma visão mais crítica sobre sua atuação como educador. Professores motivados são mais engajados, dedicados e comprometidos com a educação de seus alunos. Conforme Vygotsky (1989) apontou, é por meio das interações interpessoais que o conhecimento é construído, passando de uma construção coletiva para um entendimento individual. Os momentos de formação possibilitam reflexões sobre a prática docente, ampliando a visão de mundo e contribuindo para a consolidação da identidade do professor.
Neste sentido, o professor necessita ter ciência de que o seu saber não é totalizado e que os alunos trazem para a sala de aula saberes prévios. O que o professor precisa é saber que em sua prática é necessário explorar a bagagem do seu alunado, pois eles têm conhecimentos que precisam apenas ser aperfeiçoados, propondo-se e flexibilizando-se para modificar suas práticas metodológicas. Pode-se então colocar algumas questões para refletir: o que fazer diante de tantos problemas inseridos nos espaços escolares, uma vez que as responsabilidades são jogadas nas mãos dos professores? Como podem ser revertidos em novas possibilidades esses problemas enfrentados pelos professores nos dias atuais?
O cotidiano escolar e a prática educativa
O cotidiano escolar é marcado por uma série de elementos que compõem o ambiente educacional, como as relações interpessoais, as atividades pedagógicas, as rotinas e os recursos disponíveis. É nesse contexto que os professores exercem sua função, sendo responsáveis por mediar o conhecimento, planejar e conduzir as aulas, avaliar os alunos e estabelecer uma relação de convivência e respeito mútuo. Ou seja, os professores são constantemente desafiados a enfrentar diversas situações, como a interação com alunos, colegas e administração escolar, além de lidar com currículos e metodologias de ensino. Considerando a perspectiva de Dewey:
“A sala de aula é um espaço onde a aprendizagem se desenvolve através da resolução colaborativa de problemas, promovendo a participação ativa dos alunos e incentivando a construção coletiva do conhecimento. Isso vai além da mera absorção de conteúdo, permitindo que os alunos desenvolvam habilidades de pensamento crítico, resolução de problemas e colaboração, essenciais para sua formação integral como cidadãos ativos e participativos na sociedade.”
Já no cotidiano não escolar, aspectos como cultura, família, sociedade e experiências pessoais também exercem influência sobre a identidade do docente. A identidade docente, por sua vez, está relacionada à forma como os professores percebem-se e reconhecem-se como profissionais da educação. Ela é construída ao longo da trajetória pessoal e profissional dos docentes, influenciada por suas experiências, valores, formação acadêmica e relação com os alunos e demais profissionais da escola. Ideias sobre educação foram fortemente moldadas por educadores que priorizavam a conexão com os alunos e a aplicação prática do conhecimento. Albert Einstein, por exemplo, disse uma vez: “Educação é o que resta depois de ter esquecido tudo que se aprendeu na escola”. Essa citação enfatiza a importância de desenvolver habilidades de pensamento crítico, resolução de problemas e aplicação do conhecimento do mundo real. Entender as necessidades e pontos de vista dos alunos é crucial para adaptar a abordagem de ensino e criar um ambiente de aprendizado inclusivo. Alguns valores como a empatia, a autoconfiança e a colaboração moldam a prática docente com conexão, aplicação prática do conhecimento e poder aprender entre os pares na sala de aula (quem sabe mais ensina quem sabe menos, quem sabe menos cresce no processo e quem sabe mais compartilha). Além disso, a integridade é essencial tanto na forma como apresenta-se o conteúdo quanto na maneira como os alunos o recebem. A qualidade da relação pedagógica também é moldada pela forma como o currículo é organizado e apresentado. O currículo não deve ser uma lista estática de tópicos a serem cobertos, mas sim um guia flexível que se adapta às necessidades e interesses dos alunos. Ao envolvê-los na definição de metas e na tomada de decisões sobre o processo de aprendizado, os educadores podem fortalecer a relação pedagógica e criar um ambiente mais encorajador.
A identidade docente
O professor tem a responsabilidade de promover o desenvolvimento integral dos alunos. Isso implica em valorizar não apenas o aspecto cognitivo, mas também as habilidades socioemocionais, físicas e artísticas dos estudantes. O docente deve proporcionar experiências educacionais que estimulem o desenvolvimento de cada aluno, promovendo sua autonomia, criatividade, pensamento crítico e capacidade de resolver problemas. No entanto, a sobrecarga de trabalho, a falta de recursos, a indisciplina dos alunos e as pressões externas são alguns dos desafios que podem afetar a identidade docente e comprometer o processo de ensino-aprendizagem.
Atualmente ensinar é uma tarefa muito difícil para os professores, pois a maioria dos alunos vem para a sala de aula sem vontade de aprender, fazendo com que tenham mais dificuldades de disponibilizar o aprendizado. Muitos professores sentem a falta da parceria com os pais na educação das crianças, pois muitos deles não visitam a escola o ano inteiro. Além de todos esses pontos negativos, o salário do professor é um dos mais desvalorizados do mercado, fazendo com que diminua o número de pessoas dispostas a seguir essa profissão.
A valorização e o reconhecimento do trabalho do professor são fundamentais para fortalecer sua identidade e motivação para atuar de forma comprometida e transformadora. É necessário resgatar a função fundamental do professor enquanto agente formador que oportuniza a formação e transformação dos alunos, desenvolvendo neles o espírito crítico e a cidadania. O professor precisa estar ciente de seu papel frente à realidade social, econômica e tecnológica que ocorre atualmente. Está se vivendo no mundo da globalização, o que torna as coisas fora da escola muito mais atraentes. A educação pós-pandemia ainda se recupera, os alunos estão cada vez mais desmotivados, muitos não olham mais para a escola como um futuro e sim como uma perca de tempo ou obrigação. A motivação de estudar para um futuro melhor não está presente em muitos dos nossos estudantes. Apesar de todos esses fatores, muitos professores continuam dedicando-se ao ato de ensinar, muitos trazendo seu próprio material concreto tentando fazer com que os alunos tenham um pouco mais de interesse em aprender. Assumem papéis diversos, tornando-se conselheiro, assistente social, pai adotivo, já que não existe na sociedade de hoje uma família ideal, pois os pais trabalham fora e nem sempre moram na mesma casa com os filhos.
CONCLUSÃO
A formação continuada contribui para o desenvolvimento profissional dos docentes. Ela oferece a oportunidade de refletir sobre a prática pedagógica, compartilhar experiências com outros colegas de profissão e ampliar o repertório de conhecimentos. Isso faz com que os professores sintam-se mais confiantes em sua atuação e sejam capazes de inovar em suas metodologias de ensino. Uma formação continuada de qualidade contribui para que os professores encontrem-se valorizados e reconhecidos em seu trabalho. Ela permite que os professores atualizem-se, aprimorem-se e apresentem-se mais confiantes em sua atuação.
Por isso, é fundamental que as instituições de ensino ofereçam programas de formação continuada de qualidade e que os profissionais da educação busquem constantemente atualizar-se e desenvolver-se. Hoje em dia a maioria dos professores não trabalha pelo salário ou por algo parecido, mas sim pelo prazer de poder ensinar e poder dar a cada um uma educação digna. Mas, diante de tantos problemas, o que faz querer continuar com a carreira docente é saber que se pode e deve modificar as estratégias de ensino, através de novas metodologias, para que ao final de cada ano letivo possa se obter resultados eficazes, garantindo o bom desenvolvimento bem como o verdadeiro processo ensino-aprendizagem, contribuindo cada vez mais para uma educação de qualidade. O professor que transforma informações em conhecimento faz de seu aluno um protagonista que descobre como associar informações que já possui para atribuir significado às informações que recebe.
Artigo escrito pelas professoras Elaine Cristina Rech Mascarello e Mariza de Fátima Rodrigues da Rosa
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n° 9394/96. Brasília: Câmara dos Deputados, 1997. 47 p.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a base. Brasília, DF, 2017.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013.
DEWEY, John. Experiência e educação. Tradução de Anísio Teixeira. São Paulo: Nacional, 1971.
GARCIA, Carlos Marcelo. A formação de professores: novas perspectivas baseadas na investigação sobre o pensamento do professor. In NÓVOA, António (Coord.). Os professores e sua formação. 3. ed. Lisboa: Dom Quixote, 1997. p 51-76.
GARCIA, Carlos Marcelo. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora 1999.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
STECANELA, Nilda. A coisificação da relação pedagógica no cotidiano escolar. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 946 43, n. 3, p. 929-946, jul./set. 2018. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article /view/78810. Acesso em: 23 mar. 2020.